O senador Cícero Lucena (PSDB) quebrou o silêncio nesta segunda-feira
(21), no que diz respeito ao seu posicionamento político nas eleições
deste ano. Desde a realização da convenção do PSDB, em que foi anunciada
a candidatura de Wilson Santiago (PTB) a senador na coligação com
Cássio Cunha Lima (PSDB) candidato a governador e Ruy Carneiro a vice,
que o tucano evitava a imprensa e manteve sigilo sobre a posição que
iria adotar na política.
Em nota divulgada na tarde desta segunda-feira, o parlamentar revelou
que irá se afastar das atividades políticas na Paraíba pelo fato de não
concordar com as práticas que a contaminaram. No
texto em que expressa mágoas com o diretório do PSDB da Paraíba, o
senador disse que a chapa majoritária foi composta à sua revelia.
Confira a nota:
AOS PARAIBANOS
Na vida pessoal, e desde muito cedo, aprendi que não se deve invocar o
nome de Deus em vão. Na minha vida pública, tive sempre a clareza de
não fazê-lo para avaliar comportamentos humanos, nem muito menos
julgá-los. Mas, eis que neste momento peço permissão aos amigos e à
opinião púbica do meu Estado para recorrer a uma citação bíblica: “Tudo
tem o seu tempo determinado e há tempo para todo o propósito debaixo do
céu”.
Hoje, passada esta primeira fase do processo eleitoral paraibano de
2014, em que os partidos escolheram seus candidatos para a eleição de
outubro vindouro, é chegado o meu tempo de falar.
Devo fazê-lo com a serenidade que, graças a Deus, sempre me
acompanhou; com a honestidade de propósitos que nunca deixou de comandar
as minhas ações. E, finalmente, com a lealdade que dediquei, nos bons e
maus momentos, aos correligionários, aos amigos, aos adversários e,
sobretudo, ao povo da Paraíba.
Fui vice-governador, governador, ministro de Estado, secretário de
Estado, prefeito de João Pessoa e estou concluindo o mandato de senador
da República, cargo para o qual fui escolhido pela vontade livre de
803.600 paraibanos, aos quais sou eternamente grato. Tenho a exata
dimensão do quanto todos esses cargos são passageiros. Afinal, o que
fica, o que vale, e o que nos fortalece enquanto cidadãos, são as nossas
ações, as nossas práticas.
Entrei na política, em 1990, pelas mãos honradas do meu saudoso amigo
e irmão Ronaldo Cunha Lima, que entre outras coisas me ensinou:
“Política se faz como sacerdócio, não como negócio”.
Este ano, pleiteei legitimamente disputar a reeleição para o Senado.
Pelo que estabelece a tradição política do nosso país, era
candidato-nato. Mas o meu nome não constará da cédula eleitoral. Na urna
eletrônica, não estarei nem com a foto nem com as minhas ideias em
defesa de dias melhores para a Paraíba e pelo Brasil.
Não tenho como deixar de enfrentar a pergunta que muitos se fazem e
que, acreditem, eu também faço: por que não tive o direito de tentar a
reeleição? Por que o meu partido, o PSDB da Paraíba, ao qual tanto me
dediquei, não reconheceu como legítimo um direito que me havia sido
conferido por quase 50 por cento do eleitorado?
Durante todo este processo eleitoral, que começou em outubro do ano
passado, ofereci várias soluções que viabilizavam a indicação do meu
nome na disputa pelo Senado. Abri caminhos e conversas preliminares para
a formação de novas alianças, preocupei-me em garantir maior tempo de
propaganda para o partido no guia eleitoral e, por fim, articulei
entendimentos que ajudariam numa boa composição da chapa majoritária.
Nada disso foi suficiente. O desejo deliberado de me tirar do processo
falou mais alto.
Por várias vezes, surpreendi-me com as informações de bastidores
dando conta de que os detentores do comando partidário negociavam com
outros políticos paraibanos a indicação para a disputa pelo Senado. Vi
se repetir, agora, o que já ocorrera em 2010, quando fui preterido da
legítima postulação ao Governo em nome de uma aliança que hoje a Paraíba
inteira sabe no que resultou, e quem tinha razão.
Coerente com a minha história pessoal, que a trajetória política
confirma, fui leal o tempo todo. Fui sincero, honesto e transparente. Em
nome do partido e da amizade, conciliei conflitos e aparei arestas…
Inúmeras arestas. Não foi o que recebi de volta.
No último dia 29 de junho, o PSDB da Paraíba reuniu-se em convenção e
indicou os candidatos majoritários e proporcionais. Uma chapa foi
composta à minha revelia, sem que meu nome pudesse ser apresentado aos
convencionais. É difícil compreender que as coisas tenham chegado a este
ponto, mas chegaram.
A esta altura, renovando os agradecimentos aos meus familiares,
sempre solidários ao longo tempo; aos meus verdadeiros e fiéis amigos
que se revelam no olhar e nos gestos; e, finalmente, a todos os
paraibanos que reconhecem a minha postura honrada em todo este episódio,
devo informar que estou me afastando da atividade política na Paraíba.
Não concordo e não comungo com os procedimentos e as práticas que a
contaminaram. Como nunca exerci o poder meramente pelo poder, não há
prova maior de desapego que esta de não disputar qualquer mandato
eletivo nestas eleições.
Deixo claro que minha decisão é hoje, e sempre será, de respeito a
quaisquer das opções que, de forma livre e legítima, serão abraçadas por
familiares, amigos e correligionários no atual processo eleitoral do
Estado.
No plano nacional, gostaria de me dirigir àqueles que possam
considerar um pedido: vou caminhar com Aécio Neves, que representa hoje a
esperança de um Brasil melhor.
Como diz o Eclesiastes, “tudo tem o seu tempo determinado”. Tempo de falar e tempo de ficar calado.
Mas, sobretudo, sempre haverá tempo para os bons propósitos.
Para quem tem Deus, nunca é tarde pra recomeçar.
João Pessoa, 21 de julho de 2014
Senador Cícero Lucena
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